Já dizia o o ex-governador da Bahia, Octávio Mangabeira: “Pense num absurdo, na Bahia tem precedente”. E não deixou de ter até hoje. Só que a cada dia os absurdos são piores, se superam, inclusive de ordem moral, mostrando a incompetência de nossos governantes, eleitos para cuidar da nação, seja ela brasileira ou baiana.
Agora mesmo constatamos a falência do Estado Bahia, com a introdução da torcida única nos jogos das duas mais importantes equipes do futebol baiano: Vitória e Bahia. E com toda a aquiescência da Federação Baiana de Futebol, cuja administração é das piores que por ali já passaram. Parece até que são escolhidas a dedo, como se diz.
Ora, se nem mesmo a Federação Baiana de Futebol defende os interesses dos seus clubes e do seu objetivo de sua existência, quem mais por direito teria o mister de fazê-los? Aceitam, ou até parece que foi por sugestão própria ao Ministério Público a ideia para que as partidas entre esses dois clubes não tenham incentivo do torcedor.
E o que diz o Estado, através do seu governador? Nada. Absolutamente nada. Abriu mão de suas prerrogativas e de sua obrigação de assegurar a segurança pública aos cidadãos. Está lá cravado no texto Constitucional, no artigo 144: “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: (...) IV - polícias civis; V - polícias militares (...)”
Pois é, das duas uma: ou o governador do Estado da Bahia assume que não tem condições de oferecer segurança aos baianos, especialmente aos torcedores, ou está praticando uma política de segregação. Como o ser humano é um animal gregário por excelência, busca viver em sociedade, numa convivência pacífica, mesmo com os altos e baixo que estamos acostumados a ver nos dias de hoje.
É fato que o Ministério Público não tem a prerrogativa, o direito de proibir a realização de partidas com torcida única, embora tenha o direito e dever constitucional de ir à Justiça para pleiteá-lo. Mas aí a questão é outra e depende do convencimento e da decisão do Poder Judiciário, após a análise dos fatos pretéritos e das possibilidades futuras.
Mas, no caso da Bahia, não há, para falar na linguagem jurídica qualquer sinal do fumus boni iuris ('fumaça do bom direito') e o o periculum in mora (perigo da demora) para uma providência cautelar desta natureza. É simplesmente zombar da qualificação dos policiais baianos, que sempre mostraram preparo no desempenho de suas funções.
Em todos os grandes clássicos entre o Bahia e Vitória (seja de quem for o mando de campo), não existem registros de violência entre as duas torcidas dentre de campo. A violência que vimos aconteceu extra campo, nas ruas e avenidas da cidade, locais em que a segurança pública deve ser assegurada 24 horas por dia.
Para coibir a violência existe todo um trabalho de planejamento das polícias civil e militar, no sentido de evitar os famosos embates, que não resultam de discussões entre torcidas adversárias, mas de pessoas desequilibradas, psicopatas e criminosos. Pessoas que matam pelo prazer de matar, sem qualquer motivo ou querela anterior e fora dos locais de jogos.
No mínimo, o Estado, representado pelo Executivo se exime de suas funções, acompanhado pelo Judiciário, que possuem todo o aparato material e legal para garantir a ordem, mas não o fazem sabe-se lá por qual motivo. Em artigo anterior citei a falta de pronta ação e observância da lei, em relação aos infratores.
Torcedor é torcedor, bandido é bandido, volto a falar. Não se mexe com as torcidas organizadas, com os criminosos que marcam brigas no percurso para o estádio. Não julgam ou fazem cumprir sentenças, deixando livres esses bandidos, principalmente em dias de jogos, quando promovem todo o tipo de violência aos cidadãos.
Banir a torcida dos estádios é atentar contra o esporte, condenando-o ao aniquilamento, Se a torcida não pode ir ao estádio, não haverá renda, não teremos bons jogadores. Sem motivo aparente para vibramos, perdemos o interesse pelo futebol, que deixará de ser uma atividade, além de esportiva, econômica.
Voltando ao ex-governador Octávio Mangabeira, está lá no livro sobre ele, de autoria do engenheiro Paulo Segundo da Costa. “A Bahia está tão atrasada que, quando o mundo se acabar, os baianos só vão saber cinco anos depois”. E completo: esse atraso sempre esteve implícito no comportamento das nossas lideranças.
*Jornalista, radialista e advogado